Candida auris: Ameaça crescente e implicações futuras

Candida auris como uma ameaça global

Os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA rotularam Candida auris como uma “ameaça global”, considerando o nível de ameaça urgente.¹C. auris, um agente patogénico fúngico, surgiu como uma preocupação de saúde grave devido ao seu potencial para causar infeções invasivas e aumentar a resistência a medicamentos antifúngicos. Descoberto pela primeira vez 2009 no Japão, o ² C. auris ganhou rapidamente atenção como uma causa potencial de infeções da corrente sanguínea graves e potencialmente fatais e surtos em unidades de cuidados de saúde, tais como hospitais e lares.³

Significado clínico de C. auris

O C. auris coloniza a pele e o nariz de alguns doentes hospitalizados sem causar doença.⁴A colonização com C. auris pode espalhar-se nas unidades de saúde, uma vez que é transferida para superfícies nas quais pode persistir durante dias a semanas.³A colonização de um doente pode persistir durante meses, ou mesmo indefinidamente, ⁵proporcionando uma ampla oportunidade de disseminação.

O C. auris é um fungo particularmente resistente e resiste aos agentes de descolonização e desinfeção conhecidos, por serem eficazes contra outras espécies de Candida. ³Isto torna a gestão de surtos especialmente desafiante.

Foram observadas doenças invasivas graves em 5-10% dos indivíduos colonizados.⁶Estas infeções têm taxas de mortalidade elevadas em doentes frágeis hospitalizados e em lares, variando de 30% a 72%.³

Os casos aumentam durante a pandemia de COVID-19

O C. auris foi identificado no Sul da Ásia, Leste da Ásia, África, América do Sul e Irão. Foi generalizado em todos os continentes, exceto na Antártida, ³ com casos aumentados observados durante a pandemia da COVID-19.⁷

O C. auris começou a disseminar-se nos EUA em 2015 e o número de casos relatados aumentou 318% em 2018 comparação com a média relatada de 2015-2017.¹Isto fez com que agências de saúde pública, prevenção de infeções, investigadores e prestadores de diagnóstico tomassem conhecimento.

Um dos aspectos mais preocupantes do C. auris é o seu elevado nível de resistência a medicamentos antifúngicos. Foram comunicadas falhas de tratamento com determinados medicamentos antifúngicos e foi observada pan-resistência a várias classes de medicamentos.^{1, 3}

No seu 2019 Relatório de Ameaças de Resistência a Antibióticos, o CDC observou que os seus especialistas em fungos nunca tinham recebido um relatório descrevendo uma infeção por Candida resistente a todos os medicamentos antifúngicos, muito menos Candida que se dissemina facilmente entre doentes.¹

Em resposta à ameaça global, o CDC soou o alarme nos EUA e rotulou C. auris como uma das 5 ameaças antimicrobianas urgentes para a sociedade.¹

A aprovação da rezafungina pela Food and Drug Administration dos EUA em 2023 fornece uma nova e promissora opção de tratamento para infeções por C. auris⁸, mas a deteção rápida e precisa do fungo é essencial para gerir esta ameaça.

Deteção e identificação laboratorial

O rastreio de doentes para C. auris é uma medida preventiva fundamental contra surtos em unidades de saúde. No entanto, a deteção e identificação precisas de C. auris podem ser difíceis.

Os sistemas de identificação fenotípica podem ser imprecisos, levando à identificação errada de C. auris .⁹ A cultura do fungo requer condições específicas de biossegurança e leva dias.

O CDC recomenda a espectrometria de massa e métodos moleculares, tais como sequenciação e PCR, para detetar e identificar C. auris com precisão. Os isolados também podem ser enviados para laboratórios de saúde pública e de referência para identificação. Embora estes mecanismos forneçam resultados precisos, as instalações podem não ter acesso a tecnologias como espectrometria de massa e sequenciação. O tempo de resposta para envio de amostras para testes também pode causar atrasos durante a janela crítica para detetar colonização e prevenir a propagação.

O impacto do rastreio de PCR interno

A implementação de testes de PCR internos para rastrear a C. auris produziu resultados positivos. Permite a identificação antecipada de doentes colonizados e potenciais poupanças de custos relacionadas com o isolamento e os testes.¹¹ Esta abordagem pode ser mais eficiente do que enviar amostras para testes, ao mesmo tempo que fornece resultados fiáveis.

A estrada à sua frente

À medida que os casos de C. auris continuam a aumentar e a resistência antimicrobiana se torna mais prevalente, soluções de teste mais rápidas e precisas serão ferramentas cruciais para detetar casos precocemente e ajudar a prevenir surtos.

Existem alguns testes comerciais baseados em PCR que detetam C. auris. ⁹ No entanto, os testes atuais foram concebidos para serem executados por profissionais com formação em ambientes laboratoriais.

Tais testes podem não ser facilmente acessíveis em ambientes como lares, onde os doentes mais suscetíveis a infeções graves por C. auris podem residir.

Foi concebido um teste protótipo de vigilância rápido e a pedido para C. auris para fornecer resultados precisos em menos de uma hora em ambientes próximos do doente.¹⁰

O teste protótipo foi concebido para ser executado no sistema GeneXpert® da Cepheid, o que permite testar em contextos laboratoriais e no "point of care". Tal teste pode levar à deteção e intervenção precoces em ambientes de cuidados de saúde, melhorando potencialmente os resultados clínicos, financeiros e operacionais.

O C. auris apresenta um desafio significativo aos sistemas de saúde em todo o mundo devido ao seu potencial para causar infeções invasivas, taxas elevadas de mortalidade e resistência a medicamentos antifúngicos. Vigilância, educação dos funcionários, orientações em evolução, desenvolvimento contínuo de medicamentos e métodos de desinfeção e soluções de teste inovadoras são cruciais para abordar esta ameaça emergente.